domingo, 14 de março de 2010

Nessa Vida


Nasci mulher, é fato.

Gameta indiscutível,

Gene irremediável,

DNA jamais escrito.


Cresci menina, concordo.

Pernas cruzadas,

Cabelos arrumados,

Bolsas, óculos e sapatos.


Vivi madura, é certo.

Aprendi a traçar os olhos,

A disfarçar as lágrimas,

A não borrar a maquiagem.


Sonhei moleca, feliz.

Escrevi meus passos,

Acreditei nos planos,

Colhi meus frutos.


Provoquei emoções, faz parte.

Ensinei meus truques,

Repiquei batuques,

Batalhei com arte.


Briguei com a vida. Berrei!

Foquei problemas,

Resolvi teoremas,

Me entreguei aos poemas.


Quebrei espelhos, de raiva.

Escondi a dor,

Distribuí amor,

Superei o tempo.


Amei demais, é assim.

Atraí desejos,

Por puro capricho,

Ou não, por pura paixão!


Caminhei e caí, me ergui!

Não pretendo mudar.

Arregacei as mangas tantas vezes,

Que já nem sei desenrolar.


Mas...quer saber?

Essa vida eu não troco por nada,

Por ninguém.

Volto e vivo mil vezes, se puder.


E quando o véu da noite me levar,

Que o amor que distribuí

E os frutos que plantei,

Venham, enfim, me regar.


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